sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Entrevista: Para A Bola no dia 22 de Agosto de 08



Aos 21 anos, David Luiz é um dos seguros valores do Benfica, justificando uma claúsula de rescisão de 50 milhões de euros. Uma fractura no quinto metatarso do pé direito, que motivou duas operações, impediu-o de jogar regularmente em 2007/2008 e levou-o a temer o final prematuro da carreira. Já refeito, promete voltar em grande.

-Como recorda, praticamente um ano depois de ter-se lesionado num treino do Benfica, os momentos difíceis que passou na época passada?
— Num dos primeiros treinos, não me recordo se o primeiro ou o segundo, após a chegada de José António Camacho ao Benfica lesionei-me e fiquei, obviamente, triste. Comecei a fazer exames, acabei por saber que tinha de fazer uma cirurgia, foi a 5 de Setembro do ano passado. Depois comecei a jogar, fiz jogos importantes, dois para a Liga dos Campeões, um deles contra o AC Milan, em casa, mas infelizmente aconteceu novo azar. Em Guimarães, a festejar um golo do Maxi Pereira, fiz uma entorse, senti dor, queria ficar em campo, mas ao intervalo parei. Dali paraa frente vivi o período mais difícil da minha vida, percebi outra vez que teria de fazer uma nova cirurgia, ainda tentei evitá-la, mas não deu. As dores eram muito fortes, já não era o mesmo jogador, o departamento médico tentou tudo para ajudar-me, mas não deu. Tudo o que tentava, não resultava, continuava com dor. Jogava um ou dois minutos, mas não dava...

— Então veio a decisão de ir à Holanda, para ser operado pelo médico Niek van Dijk...
— Sim, foi decidido por mim e por toda a gente. Deveria fazer uma nova cirurgia, o Benfica escolheu o melhor médico que há nessa área e foi entendido que deveria retirar o parafuso que tinha no pé.

— Chegou a pensar que poderia terminar a carreira?
— Sim, sem dúvida, sabíamos que havia um risco elevado e no momento em que estava, do ponto de vista psicológico, pensamos em tudo, temos pensamentos negativos. Vemos muitos casos no futebol em que estas situações significam o fim de muitos jogadores. Mas acreditava em Deus e que todos os momentos negativos iriam ser rapidamente superados, que voltaria a ser o David de sempre.
— Estabeleceu uma relação muito forte com António Martins, médico que o operou na primeira vez e que nunca deixou de o acompanhar, mesmo na Holanda.
— É uma pessoa por quem tenho muito, muito carinho, mas não só por ele, também por todas as outras pessoas do departamento médico. E sei que também eles têm um carinho especial por mim. Ajudaram-me muito, não só a nível clínico, mas também com muita amizade. Hoje, graças a Deus, estou a recomeçar a fazer aquilo que mais amo, a pegar a minha bola e a ir para o campo, a maior alegria.
— Ainda pensou ir ao Brasil para ser operado. Sinal de desespero?
— Na altura, sem dúvida, estava mal da cabeça, sentia aquele desespero e começamos a pensar coisas em que jamais pensaríamos se estivéssemos bem. Coisas ruins. Graças a Deus tenho fé grande.

— Os benfiquistas podem ficar descansados? Está recuperado?
— Claro, claro que sim, em relação à recuperação da lesão estou a 100 por cento, a 110 por cento. A cirurgia está ultrapassada, estou completamente curado. Estas ausências de treinos são motivadas pela precaução. Não é fácil quando um atleta está dois meses de cama. Só olhava para a parede, só via televisão, levantava-me apenas para ir à casa de banho, até as refeições eram na cama. E a musculatura sofre com tudo isso, os músculos ficam frágeis. Agora, voltando ao activo, voltando ao trabalho duro, com certeza que iria sentir algumas dificuldades. Estou treinando, jogando alguns minutos, regressando com precaução, não posso, de repente, voltar a fazer tudo. Não sou uma máquina que liga e desliga.

— Sente que há um lugar para si no onze de Quique Flores?
— Sim, procurarei sempre o meu espaço. Vou procurar a cada dia e a cada treino aperfeiçoar-me e crescer como jogador e depois cabe ao treinador decidir quem joga.

— A chegada de Sidnei e o facto de o plantel estar mais competitivo ser-lhe-ão prejudiciais?
— Isso são só coisas boas para o Benfica, só favorecem o Benfica.

— Como é trabalhar diariamente com nomes como Pablo Aimar ou José Antonio Reyes?
— Um jogador sente-se feliz quando tem oportunidade de estar com grandes jogadores e isso motiva grandes pensamentos, grandes ambições. Independentemente dos nomes, são jogadores de nível mundial e sentimos no dia-a-dia que eles têm a vontade de vencer de um miúdo. São consagrados, mas pensam como um miúdo que quer vencer.

— Sente que o Benfica está mais profissional que no passado?
— Tenho a certeza que este ano estamos muito mais fortes, que toda a gente está remando para o mesmo lado, que todos vão lutar para atingir grandes objectivos.

- Onde pode chegar o Benfica? Ao título nacional e à Taça UEFA?
— Sim, estamos a lutar por isso e tenho a certeza de que este será o nosso ano, a nossa vez de sorrir.

— É o plantel mais forte desde que chegou ao Benfica?
— É o plantel que sinto ter maior vontade, é aquele para onde olho e sinto que vamos vencer.
- Esta equipa técnica também é a mais forte com que trabalhou?
— Esta comissão técnica deixa transparecer que é como nós, que quer vencer e falar a mesma linguagem que nós. Estamos todos a trabalhar forte e aquilo que não está ainda ao nosso alcance passará a estar, pois faremos tudo para isso.

— Rio Ave na estreia do campeonato e FC Porto logo a seguir. São dois dos jogos mais importantes da temporada para o Benfica?
— Todos os jogos são fundamentais! Na época passada não pontuámos em muitos jogos e por isso é que ficámos onde ficámos. Aquilo em que temos de pensar é em somar os três pontos em todos os jogos, seja em que jogo for, seja qual for o adversário ou as circunstâncias em questão. Temos de ganhar para crescer na competição e dar tranquilidade à equipa.
— Vencer estes dois jogos seria um trampolim importante para o Benfica?
—Começar bem é fundamental. Começar bem o campeonato seria muito bom, daria confiança maior à equipa. Com o FC Porto há uma rivalidade eterna, mas sabemos que pontuar com o FC Porto e não pontuar com o Rio Ave significa perder pontos no campeonato.

— Em relação ao que tem visto de FC Porto e Sporting, quem considera mais forte?
— Não fico analisando o nível técnico de cada equipa, sei que FC Porto e Sporting têm grandes equipas, com grandes jogadores, são sempre fortes. O nosso pensamento está no Benfica, estamos a crescer, a lutar, a trabalhar, olhos nos olhos, sabendo o que queremos, estamos determinados a ser vencedores.

— Quique Flores tem dito que o FC Porto é o favorito ao título, mas o Sporting venceu a Supertaça...
— Quem sou eu para contrariar o que diz o treinador... Ele é mais experiente do que eu e também concordo que o FC Porto é o favorito. Este ano tenho a certeza de que seremos nós a sorrir, de que vamos dar tudo, de que daremos o nosso melhor. Que faremos tudo o que podemos fazer.
— É de alguma forma frustrante uma equipa que investiu tanto em grandes jogadores não ir à Liga dos Campeões?
— Ficamos tristes, claro, pois queríamos estar lá, mas temos de ter consciência de que o ano passado não fizemos por merecer.
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Di María nos Jogos
Estou feliz por ele, está mostrando o seu valor. Na época passada sofreu um pouco, muitos o contestavam. Ir aos Jogos Olímpicos era um sonho que eu tinha, mas não foi essa a vontade de Deus
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Luisão e Katsouranis
Eles sabem que o Benfica está melhor e trabalham com alegria, independentemente do que falaram ou deixaram de falar. É aqui que querem estar, estão de corpo e alma no clube e ao lado dos outros jogadores

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«Cláusula de 50 milhões é um orgulho»
David Luiz tem uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros, precisamente o valor que também bloqueia os interessados em Óscar Cardozo, o ponta-de-lança paraguaio que apontou mais de 20 golos na temporada passada e que é ainda o jogador mais caro a actuar presentemente no Benfica (custou 11,8 milhões). Responsabilidade acrescida para o defesa brasileiro de 21 anos?

«Não sinto peso algum por causa disso, uma vez que trabalhei para merecê-lo, procurei provar o meu valor. Sinto, obviamente, orgulho que o Benfica goste do meu trabalho, mas a cada dia tento justificá-lo e provar que mereço. É um orgulho, não o posso negar, fico feliz por ter esse reconhecimento, mas agora cabe-me mostrar que não erraram quando me valorizaram dessa forma», conclui o internacional brasileiro sub-20.
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Caído do céu
David Luiz, defesa-central de apenas 21 anos, chegou ao Benfica em Janeiro de 2007 e foi inscrito à beirinha do encerramento do período de inscrições. Os encarnados procuravam avidamente um jogador para o eixo do sector recuado e acabaria por ser nos últimos cartuchos que o empresário brasileiro Giuliano Bertolucci resolveria o problema do clube da Luz. As reticências, porém, eram muitas, dada a tenra idade do jogador e o facto de actuar no Vitória da Bahia, clube do terceiro escalão brasileiro. Não demoraria, no entanto, muito tempo a mostrar serviço, dado que a lesão de Luisão durante a partida da Taça UEFA com o Paris Saint-Germain, na capital gaulesa, obrigaria Fernando Santos a socorrer-se do jogador. Apenas realizou 27 jogos pelo Benfica (18 para o campeonato, 1 para a Taça de Portugal, 3 para a Liga dos Campeões e 5 para a Taça UEFA) e não marcou qualquer golo, mas deixou a sua marca de qualidade a tal ponto que na temporada passada a SAD encarnada decidiu renovar o seu contrato e atribuir-lhe uma das mais altas cláusulas de rescisão do plantel: 50 milhões de euros.
David Luiz tem sido marcado por lesões graves — sofreu uma fractura do quinto metatarso do pé direito e foi mesmo sujeito a duas intervenções cirúrgicas, uma delas na Holanda, pelo mesmo especialista que já operou Van Persie, Van Nistelrooy ou Cristiano Ronaldo —, mas jamais ouviu os responsáveis do Benfica duvidar das suas qualidades, tanto mais que também do estrangeiro chegam regularmente ecos do interesse de formações de gabarito no seu concurso. O mais recente emblema é a Fiorentina.



Fonte: A bola

2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Se o AMOR te desse asas, serias uma águiazinha voando livremente pelos Céus, tal é a profundidade e grandeza do teu coração.

Fica bem
.

Anónimo disse...

Ainda bem que colocaste a entrevista que o David Luiz deu à Bola aqui. Eu, que não tinha lido no jornal, já a li aqui. :D

Águia_livre, com mais uma das suas frases profundas... :)