Sonho guardado (Revista Mística)

Conheça David Luiz, uma força da Natureza, um gerador de emoções, um ídolo, mas, acima de tudo, um jovem que está a apenas meio caminho de saldar uma “dívida” simbólica para com o seu pai…

TEXTO EXCLUSIVO: David era uma criança dada ao desporto: “A minha mãe dizia que à noite tinham de me desligar a pilha para dormir, pois eu não parava. Fazia judo, capoeira, jogava tudo…” Nem mesmo a insegurança das ruas de São Paulo o impediu de pintar em tons desportivos a sua infância. Ainda assim, era numa aldeia remota de Minas Gerais, cidade que viu nascer os pais, onde mais se divertia o pequeno David. “Era tudo mais calmo, mas dava para brincar ainda mais. Nem almoçava. Andava de bicicleta pelas fazendas, subia a pé de manga e, claro, jogava à bola. Os meus pais e a minha avó achavam piada. Sentiam-se mais descansados. Pena é que só lá íamos duas vezes por ano, de férias, pois era longe.”

No dia-a-dia de São Paulo foi ganhando o nervo para, com a bola nos pés, jogar ao ritmo da grande cidade. Mas eram igualmente visíveis os traços do campo, a calma do ser. “O meu pai sempre me disse que se eu tinha nascido com dois ouvidos e uma só boca era porque tenho de ouvir mais do que falar. Digamos que são pólos opostos mas que se cruzam no meu perfil.”

Amigo com o toque de Deus

E essa forma de estar nota-se no seu jogo. Uma concentração extrema, mas igualmente uma ambição e uma raça inigualáveis. Mas, apesar dos atributos, dentro de campo nem tudo foi um mar de rosas: “Primeiro, nas escolinhas perto de casa, treinava quatro vezes por semana; depois fui para o São Paulo e tudo era diferente, pois existia uma estrutura sólida. Ali aprendi muito, mas fui dispensado. Ainda tentei o América Mineiro durante três meses, mas não deu. Pensei que não iria passar dali.” Até que um amigo de infância o incentivou a tentar a sorte no Vitória da Baía. “Acabei por lá chegar e ficar, enquanto o meu amigo acabou por se vir embora.” Mas eis outro traço da personalidade de David Luiz: “Esse amigo vive hoje comigo aqui, em Lisboa. Nunca esqueço os amigos que Deus coloca no meu caminho. Sem a família e sem amigos não teria conseguido chegar onde cheguei.”

Mas ainda faltaria muito caminho até David Luiz chegar a Lisboa. “Era médio, cheguei a jogar muitas vezes como ‘dez’ e até fazia muitos golos. Depois fui avançado. Aliás, até ao primeiro ano de juniores no Vitória eu nunca tinha jogado à defesa. Até que num jogo o treinador não tinha centrais e me chamou. Como tudo correu bem, fixei-me na posição e mais tarde estreei-me na equipa principal.”

Aprender a ser feliz

Com a ajuda de Fernando Santos – “ele sempre conversou muito comigo e hoje sei que me colocou em campo no momento certo” –, David Luiz tornou-se um elemento em foco no Benfica. Mas depois aconteceu-lhe um revés no início da época de 2007/2008, sob o comando técnico de José António Camacho. “Tive muito azar, pois muitos não recuperam da lesão que tive [no quinto metatarso]. E mesmo quando parecia ter recuperado, voltei a lesionar-me. Hoje sei que cresci muito nessa época. Ganhei a noção de que nem tudo no futebol são rosas.”Um dos companheiros que ajudou David Luiz nesses momentos foi Luisão: “Foi uma pessoa que me ajudou bastante. Alguém experiente, que passou o seu melhor para mim tal como eu tento passar para ele. É um companheiro que agradeço a Deus ter.” Muito mais do que companheiro, Luisão tem sido um amigo de vida para um David que em 2008/2009 recuperou das lesões mas teve de enfrentar novo desafio: adaptar-se ao lado esquerdo da defesa: “No momento tive dúvidas, mas serviu para crescer física e tacticamente. Dediquei-me, e no final da época estava solto como lateral. Já sabia como jogar ali. Valorizou-me enquanto jogador e fez-me crescer bastante. Foi mais um ano em que aprendi imenso. Estava destinado. Foi a vontade de Deus!”

Fonte: http://www.slbenfica.pt/