Pais contam como David Luiz se tornou o central mais caro da história
A história de sucesso do central mais caro da história do futebol mundial começou com um empréstimo de R$ 350, parcelado em 18 vezes. Foi o valor que os professores Ladislau Luiz Marinho e Regina Célia Moreira Marinho pegaram em um banco, em 2001, para pagar a passagem do filho, de 14 anos, de São Paulo para Salvador. Poucas semanas antes, o garoto de quase 1,70m, que começou a treinar nos campos de terra de Diadema sob a supervisão do pai, havia sido dispensado do infantil do São Paulo por ser baixinho demais para jogar na defesa. O que era para ser o fim do sonho se tornou o impulso para David Luiz crescer – não só fisicamente –, se tornando destaque no Vitória, depois na Europa, e, desde a chegada de Luiz Felipe Scolari, titular da Selecção Brasileira.
Muito mais do que um lugar entre os 11 do Brasil na Copa do Mundo, David Luiz Moreira Marinho, hoje com 27 anos, conquistou algo raro para um jogador que nunca defendeu clubes da Região Sudeste e que saiu do Brasil antes de completar 20 anos: carismático e brincalhão, porém dedicado e rigoroso, ele se tornou um dos jogadores mais populares da equipa de Felipão. As perucas louras, imitando as madeixas dele, são frequentes na arquibancada em jogos do Brasil. Figurinha fácil em comerciais de TV, nos últimos três meses David Luiz foi um dos 11 atletas mais citados no Twitter.
A admiração é fruto do desempenho em campo, da personalidade e, claro, do cabelo. O estilo, no entanto, demorou a agradar a mãe. “Em Diadema, a gente cortava cabelo de graça na associação de bairro, e eu pedia para raspar tudo. Hoje, depois que virou marca registrada, a gente pede para ele não cortar”, brinca Regina, lembrando que o filho deixou o cabelo crescer por causa do frio na Europa. “Primeiro, foi para se proteger, mas, quando as portuguesas começaram a tratá-lo de ‘meus caracolinhos’, ele não cortou mais.”
Nascido em Diadema, na Grande São Paulo, David Luiz tem DNA mineiro: Ladislau e Regina nasceram e se conheceram em Cataguases, na Zona da Mata mineira. Foram para a cidade paulista na década de 1980, onde se formaram em pedagogia. Em 1987, quatro anos depois da primeira filha, Isabelle, nasceu David Luiz. Meio-campista do amador Flamengo de Cataguases na juventude, Ladislau tratou de ensinar ao garoto, logo nos primeiros anos de vida, os fundamentos do futebol. “Eu ensinava a cabecear, chutar com a perna esquerda, domínio de bola. Ele ficava com um olho na bola e o outro na piscina do clube”, lembra o pai, que só deixava o garoto de 5 anos cair na água depois de muito treino.
A rigidez deu certo. Quando David chegou à escolinha do ex-jogador César Sampaio, aos 6 anos, já conhecia do riscado. “Um dia, ele cobrou do treinador que ensinasse fundamentos. O técnico não gostou da crítica”, diz Ladislau, lembrando a personalidade forte do menino. “Teve um campeonato em que o David, com 8 anos, marcou pesado um atacante. Diante da reclamação, gritou para o pai do garoto que ‘futebol era coisa de homem’”, recorda-se a mãe.
Personalidade
Os pais definem David como prestativo, solidário e, às vezes, imprevisível. Ao viajar pela primeira vez para o exterior, pelo infantil do São Paulo, gastou o dinheiro da alimentação com um taco de beisebol para um amigo de Cataguases. “É para ele espantar as vacas no pasto, mãe”, disse. No Vitória, não perdeu a generosidade. “Eu gastava meu salário com camisetas para o David, porque ele dava as dele para os meninos que precisavam mais.”
Depois de quase quatro anos na base – onde treinou com Hulk, atual companheiro de Selecção, além de Marcelo Moreno, hoje no Cruzeiro –, David Luiz subiu para os profissionais do Vitória, em 2005. Em dois anos, foi para o Benfica, onde conquistou duas Taças da Liga (2009 e 2010) e o Português (2010), sucesso que chamou a atenção do Chelsea e da Seleção Portuguesa. “Tive esperança de que ele iria para a Copa de 2010. Chegou a ser cogitado para defender Portugal, mas falou que o coração dele era verde-amarelo e que nunca jogaria contra o Brasil”, conta o pai.
David Luiz foi lembrado na primeira convocação de Mano Menezes, para o jogo contra os Estados Unidos, em Agosto de 2010. Em Janeiro de 2011, foi vendido ao Chelsea por R$ 57 milhões. Mês passado, o Paris Saint-Germain pagou cerca de R$ 185,6 milhões para contratá-lo, tornando-o o central mais caro da história.
As actuações na Copa das Confederações ajudaram David Luiz a se firmar na Selecção – é o capitão na ausência de defesa Thiago Silva, dono da braçadeira. “O David é observador, vê muito além do probleminha. Ele acolhe, chega junto. E isso faz o Felipão gostar dele, não só no futebol. Ele gosta do David de graça”, afirma Regina. “Hoje, até agradecemos a dispensa do São Paulo. A história poderia ser outra. Deus fez o caminho dele o contrário, porque ele é um ser iluminado”, conclui Ladislau.
Fonte: Super Esportes
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