Método holandês formou David Luiz

Aprendeu a jogar em todas as posições no Brasil.

'Vírgula' no Funchal não foi acaso.

Minuto 90+3 no Funchal: David Luiz sobe pelo corredor esquerdo e recebe a bola de Reyes; surge-lhe João Luiz, médio do Marítimo, e o número 23 faz o inesperado: uma vírgula (ou um elástico, como lhe chamam no Brasil), ultrapassando o opositor e cruzando para Nuno Gomes, autor do 6-0. Um dos momentos mais interessantes do encontro e que mereceu, no final, um cumprimento efusivo de Luís Filipe Vieira. «Parecias um avançado!», disse, abraçando o defesa à saída dos balneários do Estádio dos Barreiros.

David Luiz nunca foi um avançado de raiz, mas já treinou nessa posição. Ou melhor, treinou em todas. «Ele, como todos os jogadores formados no Vitória da Bahia, foi formatado pelo método Coerver, inventado pelos holandeses, no qual todos os jogadores são testados em todas as posições e submetidos a todos os exercícios técnicos», conta João Paulo, ex-treinador do defesa no emblema baiano. «No nosso clube damos mais valor a esse tipo de trabalho do que à separação de sectores. Aqui, existe um lema: 'valorizar primeiro, ganhar é uma consequência'», vincou o actual coordenador do futebol jovem do Vitória.

A finta de Rivelino
Carlão (assim é conhecido) é outro dos ex-treinadores de David Luiz. Que não ficou espantado com a vírgula. Ou melhor, o elástico que Rivelino inventou no Mundial de 1970, que Isaías trouxe para o Benfica e que Ronaldinho Gaúcho tantas vezes utiliza para dar show de bola. «Sempre teve técnica acima da média para um defesa. Antes de ser central, jogava a volante, que vocês aí chamam de trinco», lembra. «Fui eu que o transformei em central», diz João Paulo, acrescentando: «Ele tinha algumas dificuldades a jogar de costas e fazia muitas faltas a meio-campo. Mas sempre teve técnica. Nas brincadeiras, jogava sempre a avançado, sempre soube fintar, com pé direito e esquerdo.»


Lateral sem problemas
«David está preparado para jogar a lateral», garante Carlão. João Paulo concorda: «Dá mais tranquilidade à defesa e possui capacidades técnicas suficientes para criar desequilíbrios na frente. É rápido, tem bom domínio de bola e, muita atenção, tem um bom remate!» Em Matosinhos, o 23 terá mais uma hipótese para mostrar o seu lado menos conhecido...

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Coerver, o homem que inventou a fórmula
Afinal, o que é o método holandês? Trata-se de uma diferente abordagem na formação dos jogadores, inventada por Will Coerver na década de 70, com o objectivo de proporcionar aos jovens todas as técnicas e movimentações das 10 posições de campo, cuja máxima é taxativa: «Nenhum sistema, táctica ou equipa são tão bons como o próprio indivíduo que a integra ou compõe. Embora o jogo seja onze contra onze, são quase sempre situações individuais ou de pequenos grupos que determinam o sucesso da equipa.»

O método desenvolve-se numa pirâmide de seis patamares: domínio e controlo de bola, passe e recepção, acções ofensivas e defensivas, velocidade com e sem bola, finalização e jogos em grupo, para apurar a criatividade. Acções que são apuradas à medida que o tempo avança e as características dos jogadores se desenvolvem. Ou seja, um defesa-central ou um avançado têm a mesma escola e só depois há lugar ao talento individual. O caso de Frank de Boer, ex-internacional holandês, foi um dos exemplos perfeitos da escola laranja: foi avançado, médio e terminou a defesa-central, no Barcelona. Um futebol total, cuja escola foi exportada para o Brasil e que marcou a formação de David Luiz: um central que facilmente joga a lateral-esquerdo.

Fonte: A bola